Stephen Hawking morre aos 76 anos; conheça seu legado para a ciência

O cientista britânico Stephen Hawking morreu nesta quarta-feira (14) aos 76 anos em sua residência, na cidade inglesa de Cambridge. Sua família enviou uma declaração oficial à imprensa confirmando a morte do físico e cosmólogo. Lucy, Robert e Tim, seus filhos, afirmaram que Hawking era “um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos”.

Considerada uma das mentes mais brilhantes da história da ciência, ele fez grandes contribuições à comunidade científica, com teorias como a do espaço-tempo e do funcionamento dos buracos negros, a partir das quais conseguiu aproximar o público de temas que poderiam parecer complexos para muitos.

Há décadas convivia com esclerose lateral amiotrófica, doença responsável por paralisar os músculos do corpo, mas que não comprometeu suas funções cerebrais.

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Nascido em 1942, no aniversário de 300 anos da morte de Galileu, Hawking realizou seu trabalho acadêmico nas universidades britânicas de Oxford e Cambridge. Autor de best-sellers como Uma Breve História do Tempo e O Universo numa Casca de Noz, o cientista foi responsável por popularizar a física teórica para um público leigo.

 

A Revista Galileu separou oito reflexões a partir das quais é possível ter uma visão mais profunda da linha de pensamento — e das contribuições científicas do cosmólogo:

 

“Deus pode existir, mas a ciência consegue explicar o universo sem a necessidade de um criador.” 
Em múltiplas ocasiões, Hawking afirmou ser ateu. Neste caso, Deus seria uma espécie de limitação, ou seja, as pessoas só saberiam aquilo que Ele sabe. A diferença entre a religião e a ciência, de acordo com Hawking, é que a primeira é baseada em uma autoridade, enquanto a segunda funciona a partir da observação e da razão. “Eu acredito que o universo é regido pelas leis da ciência”, explicava. “A ciência triunfará porque ela funciona.”

 

“Acredito que a vida se desenvolve de forma espontânea na Terra, então deve ser possível para ela se desenvolver em outros planetas.” 
Hawking acreditava que formas inteligentes, não apenas microbianas, de vida existem em outros lugares do universo. Tanto que lançou um programa de 100 milhões de dólares cujo objetivo era buscar uma civilização extraterrestre.

A segunda parte da missão consistiria em compilar uma mensagem para ser enviada para essas formas de vida. “Não há questão maior. Está na hora de nos comprometermos a achar a resposta, a procurar vida fora da Terra. Estamos vivos. Somos inteligentes. Precisamos saber”, disse o físico.

 

“O desenvolvimento da inteligência artificial pode ser o fim da raça humana.”
Por sofrer de esclerose lateral amiotrófica, que compromete o funcionamento do sistema nervoso, o cosmólogo contava com a tecnologia para se comunicar. Especialistas da Intel e da Swiftkey criaram um sistema que, por meio do teclado de um aplicativo no smartphone, aprendia como Hawking pensava e sugeria palavras que ele queria usar em seguida. O desenvolvimento dessa tecnologia envolveu inteligência artificial, o que impressionava e assustava o cientista ao mesmo tempo.

Para ele, era necessário ter cautela para não criar uma espécie de Skynet que ultrapassaria a inteligência humana e substituiria as pessoas. Essa preocupação se estendia principalmente ao desenvolvimento de armas autônomas. Em carta aberta, Hawking e centenas de outros cientistas se posicionaram em relação às consequência desse tipo de tecnologia.

“A tecnologia relacionada a inteligência artificial chegou a um ponto no qual a disposição desses sistemas é possível em questão de anos, não décadas, e as expectativas são altas: as armas autônomas foram descritas como a terceira revolução para as guerras, após a pólvora e as armas nucleares”, diz o documento.

“A pergunta chave para a humanidade hoje é se devemos dar início a uma corrida de armas feitas com inteligência artificial ou se devemos prevenir que ela sequer comece. É só uma questão de tempo até que elas apareçam no mercado negro ou nas mãos de terroristas e ditadores que querem controlar suas populações, ou déspotas que desejam fazer ‘uma limpeza’ étnica em seus territórios.”

 

“A ideia de viagem no tempo não é tão louca quanto parece.” 
Em artigo escrito para o Daily Mail em 2010, Hawking revelou que, por muito tempo, evitou falar sobre viagem no tempo por receio de ser rotulado de louco. Mas com o passar dos anos, deixou essa abordagem de lado. “Eu sou obcecado com o tempo. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu visitaria Marilyn Monroe em seus dias de glória ou iria atrás de Galileu enquanto ele construia seu telescópio. Talvez eu até viajasse para o fim do universo para descobrir como a nossa histórica cósmica termina”, escreveu.

ILUSTRAÇÃO EM HOMENAGEM A STEPHEN HAWKING (FOTO: FLICKR/CHARIS TSEVIS)

O físico sugeria a existência de uma quarta dimensão. Haveria, além da altura e do comprimento, um outro tipo de comprimento: o do tempo. “Tudo tem um comprimento no tempo, bem como no espaço”, explicou. Logo, viajar no tempo seria viajar pela quarta dimensão, uma espécie de portal com o nome de “buraco de minhoca”.

“Os buracos de minhoca estão por toda parte do nosso redor, mas eles são muito pequenos para que consigamos vê-los. Eles ocorrem em fendas e cantos do espaço e do tempo. Alguns cientistas acreditam que talvez seja possível aumentá-los o suficiente para que humanos ou naves espaciais possam utilizá-los.”

 

“As coisas podem escapar de um buraco negro, tanto para o lado de fora, como também possivelmente em um outro universo.” 
Em 1974, Hawking argumentou que os buracos negros, supostamente campos gravitacionais impossíveis de se escapar, emitem um tipo de radiação térmica por conta de efeitos quânticos. Chamada de radiação Hawking, quando emitida em grande quantidade, teoricamente, pode fazer com que o buraco negro desapareça e que, com isso, a informação sobre o estado físico de um objeto que cai no buraco negro seja destruída.

Isso aconteceria de acordo com a relatividade geral. Já sob o ponto de vista da mecânica quântica, essa mesma informação não poderia se perder. Esse paradoxo tem perdurado pelos últimos 40 anos.

Em 2004, o cientista mudou de ideia, afirmando que a informação poderia sobreviver. No fim de agosto de 2015, ao falar da radiação Hawking, o cosmólogo sugeriu uma nova abordagem que pode mudar para sempre a forma como buracos negros são vistos e discutidos. “Eu proponho que a informação não é armazenada no interior do buraco negro, como é de se esperar, mas sim em seu limite, o horizonte de eventos”, disse o cientista.

Basicamente, ao ser sugada pelo buraco negro, a informação passaria por um processo de tradução, criando um holograma da informação que sobreveviria e escaparia pelo horizonte de eventos. “Os buracos negros não são tão negros como os fizemos parecer. Eles não são as prisões eternas que já foram considerados uma vez”, explicou Hawking.

 

“Você tem que ter uma atitude positiva e tirar o melhor da situação na qual se encontra.” 
O cosmólogo foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica quando tinha 21 anos. Na época, a previsão dos médicos era de que Hawking teria apenas mais três anos de vida. Ele lidava com a doença se focando em atividades relacionadas com a física teórica, que não exigiam seu esforço físico. “A ciência é uma área boa para pessoas deficientes porque ela precisa principalmente da mente”, afirmou.

 

“Manter alguém vivo contra a sua vontade é uma grande indignidade.”
O suicídio assistido deveria ser um direito dos pacientes de doenças terminais, de acordo com Hawking. O cientista afirmou, durante um programa da BBC, em junho de 2015, que consideraria dar um fim à própria vida se sentisse ser um fardo para outras pessoas e não tivesse mais contribuições a fazer. No entanto, ele admitiu que ainda tinha muito a oferecer à sociedade. “Nem pensem que eu vou morrer antes de desvendar mais segredos do universo”, declarou.

 

“Nós somos uma espécie avançada de macacos em um planeta menor de uma estrela mediana. Mas nós conseguimos entender o Universo. E isso nos torna muito especiais.”
O objetivo de Hawking era obter a compreensão total do Universo, como os motivos de ele ser como é e a razão de ele existir. A dica do cientista para as pessoas era olhar para as estrelas e não para baixo, para os próprios pés. “Tente encontrar sentido no que você vê, e se pergunte sobre o que faz o Universo existir”, dizia. “Seja curioso.”

 

(Revista GALILEU)