Pesquisadores do CCT desenvolvem material para tornar carros mais baratos, resistentes e sustentáveis

Um grupo de estudantes de pós-graduação da Universidade Federal de Campina Grande está desenvolvendo um produto que promete revolucionar o mercado automobilístico. Os pesquisadores, que atuam no Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Biomateriais do Nordeste (CERTBIO/CCT), estão atuando em parceria com pesquisadores da Alemanha com o intuito de criar componentes mais rígidos, seguros e baratos para os automóveis e, especialmente, utilizando-se de compostos de base biológica, de forma a preservar o meio ambiente. Trata-se de uma parceria entre UFCG, UFPB, Certbio, Fapesq/PB e o Instituto Fraunhofer-IFAM, um dos maiores da Europa no campo de pesquisa aplicada, localizado em Bremen, na Alemanha.

“Carros sustentáveis já foram desenvolvidos no mercado, não é exatamente um tema novo. No entanto, de tudo que vem sendo criado, o comportamento mecânico é por muitas vezes falho. Então esse campo ainda está bem aberto e com lacunas, e é aí que também entramos com nossa pesquisa”, explicou uma das integrantes da equipe, a estudante Janetty Barros. O grupo é composto ainda pelos alunos William Souza, Ingridy Dayane, Eunice Paloma e Nichollas Guimarães.

O trabalho, coordenado pela professora do Departamento de Engenharia de Materiais da UFPB, Renate Wellen, pode ser entendido em duas partes. A princípio, os pesquisadores trabalham com os reagentes, fazendo testes práticos, substituindo uma parte do sistema tradicional de confecção por materiais biológicos. Nesse processo, usa-se, por exemplo, óleo de soja como resina, e pó da casca de ovo como catalisador, material que seria, como comumente acontece, descartado como resíduo.

Segundo explica a professora Renate Wellen, atualmente o mercado utiliza componentes oriundos do petróleo e que, ao final, precisam ser colocados em incineradoras ou são despejados em aterros. O objetivo do projeto, então, é alterar esses elementos, utilizando óleo de soja ou linhaça. “Assim, a fonte passa a ser biológica e renovável. O material é previsto para durar de 20 a 30 anos, período considerado comum para a vida útil de peças de automóveis, segundo pesquisas na Alemanha. A grande diferença, porém, é que, ao final, os componentes podem ser descartados no próprio meio ambiente, já que são biodegradáveis, servindo inclusive como matéria orgânica (adubo), ou seja, há grande foco na conservação e preservação do meio ambiente, sem perder com isso a qualidade do produto obtido”, explicou a coordenadora da pesquisa no CERTBIO.

O projeto leva o nome de Best-Bio-PLA, em alusão ao biopolímero utilizado. Na Alemanha, conta com aprovação do Ministério de Educação e Pesquisa, que disponibiliza mais de um milhão de euros como investimento, além de contar com o poio de várias empresas privadas europeias. No Brasil, a parceria é com a Fapesq/PB, contando também com a colaboração da empresa Sisal-Gomes.

“Fazemos uma junção de duas espécies de plástico, uma mais firme e outra mais maleável. Esse é o diferencial. Então estudamos todo o processo de trabalho, a parte cinética e o processo de análise técnica, endurecimento e reações, para, a partir daí, entender em que parte de um carro, por exemplo, acoplar tal material seria mais proveitoso”, detalhou o pesquisador William Souza, explicando que o produto deverá ser usado em revestimentos internos, como forros, portas, etc. “Essa investigação termina por desenvolver um produto mais barato, leve, resistente, tenaz e, acima de tudo, não tóxico, ou seja, sustentável, além de diminuir o próprio consumo de combustível”, finalizou.

Uma segunda parte do estudo é adotar os melhores parâmetros obtidos na análise inicial e adicionar o chamado “termoplástico”, que seria a espécie mais maleável do produto.

A pesquisa, que segue em efetivo desenvolvimento, teve início há pouco mais de um ano. O contrato de parceria está em pleno vapor, e a expectativa é que testes práticos sejam realizados dentro dos próximos anos, assim que se encerrar a fase de testes de laboratórios. Estes, inclusive, foram iniciados este mês, no CERTBIO (Brasil) e no Instituto Fraunhofer (Alemanha).