Laboratório do CCT produz biocombustível a partir de óleo de cozinha que seria descartado

Enquanto o petróleo ainda é causa de guerras e grave poluição, uma solução natural é a esperança de quem sonha com um mundo mais limpo e saudável. Os biocombustíveis são uma alternativa aos combustíveis fósseis e vêm superando as expectativas sobre a geração de energia no mundo de uma forma sustentável. Cientistas de todo o planeta trabalham para torná-lo cada vez mais acessível, e a Universidade Federal de Campina Grande é um dos expoentes do assunto.

Uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Síntese de Materiais Cerâmicos (LabSMaC) coleta substâncias como óleo de fritura e acidificado, oleaginosas do semiárido e sebo bovino para transformá-las em biodiesel. O trabalho é comandado pelas pesquisadoras de pós-doutorado Joelda Dantas (CEAR/UFPB) e Ana Flávia Farias (UFCG), e também conta com a participação voluntária de outros estudantes de graduação e pós, tudo sob a coordenação da professora Ana Cristina F. M. Costa, da Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais (UAEMa/CCT).

“Coletamos o óleo em lanchonetes, pastelarias, no próprio restaurante universitário. É um material com grau de acidez considerável e que, quase sempre, é despejado diretamente no esgotos, poluindo o ambiente. Nosso trabalho consiste em reaproveitá-lo e transformá-lo, ainda por cima, em um item essencial no dia a dia de todos nós, que é o combustível”, contou Joelda.

Um dos pilares das pesquisas desenvolvidas no LabSMac, o biocombustível produzido pelo projeto é obtido a partir de reações químicas de substâncias, conhecidas tecnicamente como transesterificação e esterificação. Desses processos – que podem incluir elementos como níquel, zinco, cálcio, bário, cobalto, entre outros – nasce a Ferrita, uma das várias aplicações possíveis.

“Misturamos a Ferrita ao óleo coletado. Ela é a responsável pela conversão do material, e por fazê-lo de forma muito mais acelerada do que o normal e com alta eficiência, pois estamos falando de um catalisador. Ou seja, desenvolvemos um processo que obtém biocombustível de forma mais rápida, gastando menos energia e sendo, consequentemente, bem mais barato”, explicou a pesquisadora. “Para deixar mais claro, podemos dizer que em uma hora de reação já é possível obter biodiesel de qualidade, aprovado em normas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com ótimos níveis acidez, viscosidade, etc.”, completou.

Outra vantagem do composto produzido é seu fácil reaproveitamento. A Ferrita tem característica magnética, ou seja, após utilizada em uma reação, ela pode ser identificada e coletada com o auxílio de um simples ímã, separada e independentemente dos outros restos gerados no processo, servindo para novos trabalhos. Os bons resultados, inclusive, vêm motivando a criação de novos sistemas de ferritas, que já estão em processo de investigação no laboratório.

As figuras abaixo, ilustrando o processo de desenvolvimento do trabalho, retratam essa capacidade magnética da Ferrita, mesmo na presença de outras substâncias, como é o caso do próprio biodiesel.

COLOCANDO EM PRÁTICA

Aproveitando-se da interdisciplinariedade possível no âmbito universitário, as responsáveis pelo projeto já estão traçando os planos para colocá-lo efetivamente em prática. “Já se especula a ideia de parceria com outras unidades acadêmicas para a adaptação de um motor e mostrar que o biocombustível obtido a partir do trabalho realizado durante o doutorado realmente funciona. Esperamos realizar esses testes num futuro próximo”, finalizou Joelda.