Artigo – Consolidação do Programa de Pós-Graduação em Design da UFCG

Por: Wellington Gomes de Medeiros

Em 2017 o Programa de Pós-Graduação em Design da UFCG completa três anos, fazendo um total de seis anos de trabalho desde as primeiras anotações e expectativas compartilhadas com os colegas da Unidade Acadêmica de Design até a formação da primeira turma do Mestrado em Design. Até abril de 2017 haviam sido titulados dez Mestres em Design no programa, incluindo alunos da segunda turma.

Mas, na verdade, a gestação de nosso Mestrado remonta a épocas mais distantes. Inicialmente, manifestou-se na visão inovadora do saudoso prof. Linaldo Cavalcanti, que acreditava no design como instrumento para a inovação e o desenvolvimento. Com determinação e amor à academia e à Campina Grande, ele criou as condições para a fundação do Curso de Desenho Industrial ainda em 1978, feito de vanguarda e histórico para a região e o país. Naquela época, o prof. Linaldo trouxe para a então UFPB-Campus Campina Grande, profissionais acadêmicos reconhecidos em uma área incipiente no mundo e mais ainda no Brasil: o design.

Passados trinta e nove anos, podemos ver os frutos plantados na certeza do prof. Linaldo. O Curso de Graduação em Desenho Industrial destacou-se, e continua destacando-se no cenário nacional, inclusive com a criação do extinto Laboratório de Desenho Industrial da UFPB, quando por aqui passaram pessoas com inserção internacional, a exemplo do prof. Gui Bonsiepe, que ministrou workshop, além de nomes reconhecidos no cenário nacional como Gustavo Amarante Bomfim, Itiro Iida, Ivan Assumpção, Lia Mônica Rossi, entre outros. E foi justamente por ter uma visão de vanguarda, e por acreditar em Campina Grande e na UFPB, que o prof. Linaldo estimulou a criação do primeiro programa de pós-graduação em design no país. Na época, o único doutor com formação em área correlata atuando no estudo acadêmico, sistêmico e metodológico do design no país era o também saudoso prof. Gustavo Amarante Bomfim, cofundador e professor do curso. Mas, por ironia, tanto este, quanto os demais professores da época, não acreditaram na viabilidade do projeto do Mestrado. E ele não aconteceu, tornando-se uma vontade frustrada, porém não vencida.

Tempos depois, foi feita nova investida, quando o então Departamento de Desenho Industrial juntou-se ao de Computação para criar um mestrado, chegando a formar três mestres do quadro docente do então DDI. Entretanto, este projeto não teve continuidade, sendo desativado em pouco tempo.

Mas a pretensão de criar uma pós-graduação permanecia, e vez ou outra essa questão emergia e revelava a frustração guardada. A certa altura, alguns professores, entre os quais eu me incluo, rascunharam cursos de especialização, mas que nunca chegaram a se concretizar na UFCG. Percebia-se, entretanto, que era uma questão de tempo, pois, com a capacitação dos professores, a pesquisa precisaria ser acomodada em seu ambiente natural: a pós-graduação.

Em 2003 iniciei meu doutorado em Design, quando pude me aprofundar nas questões contemporâneas e da pesquisa na área. Conheci programas de vários países, entre os quais, destaco o da Universidade de Newcastle, na Inglaterra; o de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda; e o de arte e design de Helsinki, Na Finlândia. Já naquela época estes programas estavam à frente do demais no estudo e na aplicação das dimensões do design muito além daquelas que eu conhecia como prática na UFCG voltadas principalmente ao caráter funcional-pragmático. Vi como a pesquisa impulsionava novas compreensões sobre o design através do estudo e da aplicação da dimensão humana e da multidisciplinaridade no processo de design. Eu acreditava que, guardadas as devidas proporções, havia condições de criar na UFCG um programa com características especificas, porém em sintonia com o que eu estava aprendendo. Alimentado pela lembrança da expectativa dos colegas no Brasil, essa ideia permaneceu comigo como um embrião até meu retorno ao fim do doutorado.

Retornei em 2007. Entre 2008 e 2010, assumi a coordenação da graduação na intenção de contribuir para a atualização do Curso de Design. Além de implementar diversas ações estruturais e humanas, trabalhei arduamente, com a colaboração dos colegas, na atualização do Projeto Pedagógico do Curso. No projeto resultante eu destacaria dois aspectos que modestamente considero relevantes: primeiro, a inclusão de elementos contemporâneos do design que apreendi durante meu doutorado, incluindo abordagens subjetivas como semântica do produto, design e emoção, iteratividade, processo de design, interface, design centrado no humano; e a redução dramática da carga horária, o que permitiria aos professores a dedicação a outras atividades além do ensino. Entre estas atividades, planejávamos que estaria a pós-graduação.

Uma vez finda minha contribuição na coordenação da graduação em 2010, me dediquei, junto a alguns colegas, ao projeto da pós-graduação. Desta forma, iniciamos reuniões internas e externas, buscando orientações com coordenadores de programas consolidadas na UFCG. Percebemos, então, que havia condições para criarmos um programa multidisciplinar. Neste momento, a ideia começava a fazer sentido e a materializar-se.

Em 2011, durante um congresso em Portugal, tive a oportunidade de conversar com o então coordenador da área de design da CAPES, Dr. Ricardo Triska, responsável pelos programas de pós-graduação em design no Brasil. Comentei sobre nosso interesse em criar um mestrado. Naquele momento, a receptividade foi muito animadora, pois me foi revelado o interesse da CAPES em criar programas no Nordeste, onde havia apenas duas pós-graduações em design. Tempos depois, atendendo ao nosso convite, o prof. Triska viria à Campina Grande para falar sobre a pós-graduação em Design no Brasil, expressando total apoio ao nosso projeto. Retornei ao Brasil com a convicção de que era chegada a hora. Os colegas da UAD também perceberam o momento, e os trabalhos começaram ainda em 2012.

Todo o processo foi transparente e participativo. Com colaborações importantes para a finalização do projeto. Os futuros docentes do programa contribuíram com seus currículos e com a criação de disciplinas específicas. Acreditando em nossa iniciativa, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFCG deu todo apoio, financiando inclusive minha participação em um importante congresso internacional nos Estados Unidos e em reuniões nacionais dos coordenadores dos programas em Brasília.

Finalmente o projeto estava pronto, com um corpo docente formado por professores exclusivamente da UFCG e de diversas áreas, caracterizando o aspecto multidisciplinar da proposta. No início de 2013 o projeto foi submetido à CAPES. Em outubro saiu o resultado: aprovado na íntegra. Ou seja, não houve qualquer observação ou impedimento para o início do programa. No início de 2014 fizemos a seleção da primeira turma que começou em junho do mesmo ano.

Passados três anos, em 2017 o PPGDesign e seu corpo docente amadureceram. Começamos a colher os primeiros frutos, quando dos oito alunos da primeira turma, seis terminaram o ano de 2016 com seus respectivos títulos de Mestre em Design. Dos alunos formados, uma foi aprovada recentemente em concurso para professor em uma instituição de ensino federal em Minas Gerais, e outra ingressou em um doutorado, em parte graças ao título de Mestre em design obtido na UAD. Também será gerada uma patente resultante da dissertação de outro aluno. Logo no início de 2017 toda a primeira turma concluiu e parte da segunda turma também.

Com a emissão dos primeiros diplomas, consolida-se o Mestrado em Design e o PPGDesign. Não temos mais dúvidas sobre a necessidade, a viabilidade e a continuidade do programa. Também constatamos sua repercussão na graduação através de atualizações de conteúdos das disciplinas do curso de design ministradas por docentes comuns tanto à graduação quanto à pós; pela participação dos mestrandos como estagiários docentes; e pelo trabalho em equipe e participativo, aproximando os professores tanto na pós quanto na graduação.

E isso é só o começo. Em fevereiro deste ano uma nova turma ingressou no mestrado, a quarta turma. Publicações serão veiculadas com a produção científica gerada na pós, ocorrerão eventos, novos professores serão credenciados, e a estrutura deverá ser gradativamente melhorada.

A atual situação política e econômica do país é sabidamente muito difícil e até desestimulante, e poderemos ter ainda mais dificuldades principalmente na área da pesquisa e do ensino. Mas não nos deixaremos abater pela corrente contrária e, ancorados em uma vontade que continua desde o primeiro momento em que pensamos em criar nosso programa, deveremos continuar com o mesmo compromisso e com o trabalho e a produção. Acreditamos que, mais que boas ideias e boas intenções, são as ações coletivas que efetivamente fazem as coisas acontecerem e permanecerem.

Acredito que falo por todos do programa sobre a alegria de podermos contribuir para a pesquisa em design no Brasil. O ritmo e os resultados obtidos na pós são diferentes daqueles da graduação, o que nos atrai e nos faz cada vez mais querer trabalhar e contribuir para o desenvolvimento do PPGDesign, que não pertence a uma pessoa, ou a um grupo de pessoas ou mesmo à instituição, mas à comunidade que nos procura de locais cada vez mais distantes (hoje temos alunos da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) para adquirir conhecimento em nossa UFCG.

*Wellington Gomes de Medeiros é Coordenador do PPGDesign/UFCG

 

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